quarta-feira, 28 de abril de 2010

GOVERNO LULA:Brasil bate recorde na criação de empregos formais nos últimos sete anos

Nos últimos sete anos, o Brasil deu um salto na geração de postos de trabalho, virando a página da estagnação que marcou a década de 1990 com a chamada “crise do emprego”.




Entre 2003 e 2009, durante o governo Lula, foram criados 12,4 milhões de vagas com carteira assinada. Nos oito anos anteriores (1995 a 2002), foram menos da metade: 5 milhões de empregos, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e da Relação Anual de Informações Sociais (Rais).



Segundo os dados, entre 1995 e 1998, o setor público e as empresas privadas criaram 824.394 vagas. Por outro lado, entre 2003 e 2006, primeiro mandato do presidente Lula, foram abertos 6.471.336 postos de trabalho.



Descontados os números do setor público, o balanço das contratações e demissões no setor privado revela que o Brasil encerrou 1999 no negativo, com um recuo de 196 mil.

De 2000 a 2002, houve uma tentativa de reversão do quadro de retração da dácada anterior com a geração de 2 milhões de empregos. No primeiro ano do governo Lula, o Caged registrou ainda a tímida criação de 645 mil novos postos de trabalho. Mas, a partir de 2004, uma sucessão de recordes mudou o cenário de estagnação que dominava o mercado de trabalho.



“Há muita coisa por fazer, mas certamente o Brasil tem o que comemorar. Os trabalhadores têm mais oportunidades e mais direitos. E este é o primeiro governo a manter um diálogo permanente com as centrais sindicais”, afirma o ex-ministro do Trabalho Ricardo Berzoini.



O governo atribui os elevados índices de geração de emprego ao crescimento econômico estimulado pelos investimentos em políticas sociais. A alta do consumo nas classes mais baixas protegeu o Brasil dos efeitos mais nefastos da crise econômica de 2009. Sem investimentos em política social, isso não seria possível. No ano passado, segundo o Caged, foram criados 995 mil postos de trabalho. A maioria dos países desenvolvidos teve redução acentuada dos empregos. Para 2010, a expectativa do governo é de 2 milhões de vagas.



O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, avalia que a revisão do papel do Estado como regulador e indutor do crescimento econômico foi fundamental para que a “década da resistência” ficasse para trás. Ele cita a política de valorização do salário mínimo, o Bolsa Família e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) como exemplos da “recolocação” do Estado na economia. A taxa média de crescimento da economia passou de 2,1% (1999-2002) para 3,3% (2003-2005), devendo atingir 5,8% em 2010.



“Passamos os anos 1990 resistindo aos ataques da política neoliberal contra os salários e as políticas sociais. Hoje vemos que crescimento econômico tem que vir aliado à inclusão social e distribuição de renda”, nota o presidente da CUT.

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quinta-feira, 22 de abril de 2010

Os lobos das pesquisas eleitorais

Postado por José Dirceu as 15:58 h




Recebeu pouco destaque na semana passada uma inusitada polêmica sobre os resultados das pesquisas eleitorais à Presidência da República. O ponto de discórdia foram os resultados destoantes que o Datafolha apresentou, com o tucano José Serra à frente (36% de intenção de voto) e a ex-ministra Dilma Rousseff nove pontos percentuais atrás (27%). Os dados referem-se a um levantamento feito no final de março, mas foram praticamente repetidos em meados de abril (Serra com 38% e Dilma com 28%).



Os números dos dois levantamentos são altamente contraditórios com a tendência verificada por todos os institutos em pesquisas anteriores, inclusive pelo Datafolha, que apontara em fevereiro 32% para Serra e 28% para Dilma, resultados que consolidavam a aproximação constante e consistente de Dilma registrada desde março de 2009.



A situação foi reforçada pelo Vox Populi no final de março deste ano (Serra 34% e Dilma 31%), mas também pelo Sensus no início de abril (Serra 32,7% contra 32,3% de Dilma). Ambos traziam um cenário de empate técnico, algo esperado pelos analistas.



Diante da divergência numérica, a Folha de S.Paulo, do grupo do Datafolha, adotou comportamento questionável para justificar os números destoantes: jogou suspeitas sobre o trabalho dos dois institutos concorrentes. O Vox Populi e o Sensus viraram alvos da Folha. O primeiro passou a ser suspeito de usar uma ordem de perguntas que poderia, supostamente, direcionar as respostas dos entrevistados. O segundo foi criticado por um erro no registro do contratante da pesquisa.



Mas notem que até aquele momento a metodologia do Vox Populi não havia sido alvo de questionamentos. E não poderia ser, pois os resultados eram semelhantes aos apresentados por outros institutos. Da mesma forma, é leviana a insinuação de que o Sensus comprometeu seus resultados porque errou o nome do contratante, quando o que importa é a metodologia aplicada.



Qualquer analista de pesquisa sério que observe os dados apresentados por todos os institutos do último ano ficará intrigado com os números trazidos pelo Datafolha. Simplesmente porque há uma máxima analítica que diz ser necessário olhar a trajetória dos candidatos, não o resultado em si. Ora, a trajetória clara na disputa eleitoral é de estagnação e princípio de queda de Serra e crescimento de Dilma.



Ao contrário do que tentou propalar a Folha, as suspeitas recaem sobre o Datafolha, não sobre os seus concorrentes. É lógico que existe a possibilidade de o Datafolha ter indicado uma nova tendência, ainda não captada pelos demais institutos, mas é preciso que a mesma se confirme nos próximos dois meses.



Não nos esqueçamos, contudo, que a Folha fez questão de publicar em fevereiro que, embora a margem de erro fosse de dois pontos percentuais, os 32% de Serra contra os 28% de Dilma não era uma situação de empate técnico porque a chance de ambos com 30% era estatisticamente improvável. Ou seja, recorreu a instrumento estatístico inédito para justificar a opção por não levar à manchete o empate entre os candidatos.



Lembremos também que foi a Folha que publicou, em 1998, na semana das eleições e no dia da votação, pesquisa Datafolha para o Governo de São Paulo com o ex-governador Mário Covas bem à frente da candidata do PT, Marta Suplicy. Abertas as urnas, verificou-se que Marta quase foi para o segundo turno no lugar de Covas.



Esse conjunto de fatores provocou reação do Vox Populi e do Sensus, além de reparos também por parte da Abep (Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa). Afinal, o adequado seria um debate profundo de metodologias e de resultados, não a tática de jogar suspeita sobre os concorrentes. Mas talvez o jornal soubesse que esse debate daria razão ao Vox Populi e ao Sensus.



Aos eleitores —e leitores—, vale o alerta do episódio: a campanha eleitoral será recheada de supostas controvérsias plantadas com o objetivo de evitar o real debate a ser feito no país, o das realizações no Governo e dos projetos para os próximos quatro anos. Neste 2010, há mais lobos em peles de cordeiro do que podemos imaginar.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Serra pode mais...

Hoje pela manhã fiquei assustado com um amigo eleitor antigo do PT.


O cara disse: Gilvan, eu vou votar no PSDB.

Eu disse: não acredito, por que você, que sempre votou no PT, vai votar em Serra?

Ele disse: Serra pode mais.

Eu disse, o que, Henrique?

Ele: pode mais, sim. E emendou:

Serra pode roubar mais.

Pode aumentar a inflação.

Pode perseguir os movimentos sociais.

Pode comprar o PiG.

Pode aumentar o desemprego.

Pode aumentar os juros.

Pode demitir servidor público.

Pode privatizar o Banco do Brasil, a CEF, o BNDES, a PETROBRAS.

Pode acabar com o PAC.

Pode acabar com o Bolsa Família.

Pode entregar o Pré-sal aos gringos.

Pode acabar com as universidades federais.

Pode jogar corrupção para debaixo do tapete.

Pode comprar deputados.

Pode pedir novos empréstimos ao FMI.

Pode recriar o CPMF.

Pode acabar com o Piso Nacional do Magistério.

Pode aderir à ALCA, ao invés do MERCOSUL.

Pode aumentar tributo.

Pode arrochar o salário do servidor público.

Pode colocar a PF para bater em grevista.

Pode abafar CPI.

Pode nomear FHC para o Ministério da Fazenda(este adora o FMI.

Pode nomear Daniel Dantas para o Ministério da Justiça(este é de uma honestidade imensurável).

Pode nomear Eduardo Azeredo para o Banco Central(este entende de caixa dois).

Pode nomear Sérgio Guerra para o Ministério do Planejamento(este entende muito bem de orçamento).

Pode nomear Roberto Arruda para o Ministério do Bem-Estar Social(panetone é o que não vai faltar.

Pode nomear Kátia Abreu para o Ministério da Reforma Agrária(esta entende de trabalho escravo).

E por aí vai.

Entendeu, Gilvan, por que eu vou votar em Serra? Ele pode mais ou não pode?Eu disse: Ah! entendi. Pode, claro!

domingo, 18 de abril de 2010

ENTREVISTA COM DILMA:Leia a íntegra de entrevista com Dilma Rousseff

Nessa entrevista exclusiva ao O POVO, a pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, dá mostras de como deverá ser sua campanha eleitoral. Dilma defende um “pensamento nordestino” para o Brasil, responsabiliza os adversários pela estagnação do passado e diz ter “parte de si” no projeto do presidente Lula. Leia as declarações de Dilma na íntegra:


DILMA – Não, você sabe que hoje foi bom, porque eu acho que foi uma agenda muito prazerosa (visita a Fortaleza em 12 e 13 de abril), às vezes a agenda é mais difícil, você tem que correr muito, andar muito, né? Eu achei essa agenda assim muito prazerosa, porque eu também me senti muito bem aqui. Desde ontem eu estou assim numa trajetória muito boa, primeiro porque eu recebi o título, né, de cidadã de Fortaleza. E é comovente você receber um título de cidadão, ou de cidadã, que é o meu caso, duma cidade como Fortaleza, e eu acho que tem uma representação tão significativa de homens e de mulheres, e depois, pela manhã, eu estive com o Cid, foi uma conversa muito boa, depois eu vim aqui nessa recepção maravilhosa do jornal O POVO.

O POVO – Mas já dá um sentido de como vai ser a campanha, viagens, correria.

DILMA – Você corre, viu, você corre.


O POVO – A senhora está preparada?

DILMA – Posso falar uma coisa? A nossa vida no governo não era propriamente um mar de tranqüilidade, não, porque a gente, além de viajar muito, fazer eventos, prestar contas à população, que o presidente sempre fazia questão, e a gente correu o Brasil, além disso, eu chegava e ia trabalhar, né. E aí você não descansa, você leva para casa todas as preocupações. Na campanha também você tem igual. Agora, eu, vamos dizer, estou com um treinamentozinho, né, que me permite dizer que eu estou agüentando bem essa fase.

O POVO – A senhora já tem claro hoje por que foi escolhida pré-candidata do presidente?

DILMA – Por que que eu fui? Eu acho que porque, pelos mesmos motivos que levaram o presidente a me escolher como ministra-chefe da Casa Civil. Porque a ministra-chefe da Casa Civil é o cargo, do ponto de vista político-administrativo, mais importante do governo. É a coordenação geral do governo. Por mim passavam todas as leis, as medidas provisórias, os decretos, e passavam também os grandes programas do governo. E a minha atividade é fazer a coordenação disso. Eu acho que esse contato diário que eu tive com o presidente, e que levou que nós estreitássemos... pessoas que trabalham muito tempo perto passam a se entender pelo olhar, né, você tem uma comunicação muito forte. Acho que o presidente confia em mim para que o nosso projeto de país seja um projeto bem sucedido, e essa confiança do presidente em mim faz com que esse desafio que eu tenho pela frente... eu vou honrá-lo, eu vou defender esse projeto, vou garantir que ele avance e isso que eu chamo de uma nova era que nós abrimos no governo Lula, eu vou garantir a continuidade. Eu também acho que porque ele viu em mim qualidades para manter e para garantir essa continuidade, e ele sabe que eu conheço o governo, sabe que uma parte desse projeto tem uma parte de mim.

O POVO – Mas vai ser uma réplica do governo Lula?

DILMA – Nunca é.

O POVO – E como vai ser o governo Dilma?

DILMA – Sabe o que vai ser, vai ser o seguinte, vai ser um governo Lula avançado. Que é um governo Lula avançado? Quando nós começamos, nós começamos do nada. Não tinha projeto, o Brasil não tinha, há anos e anos que não planejava, e havia toda uma demanda também, seria muito grave uma situação do Brasil hoje se nós não tivéssemos feito os programas sociais que nós fizemos, muito grave, porque você teria uma parte muito importante da nossa população sem nenhuma perspectiva, sem futuro. Hoje, não, nós temos clareza de que a população brasileira, os mais pobres desse país têm expectativa de futuro e podem tê-la porque nós vamos cumprir essa expectativa, nós demos um início a isso. Mas ainda tem muita gente para a gente tirar da pobreza, tem muita gente, milhões e milhões de brasileiros, para a gente continuar elevando à classe média. Uma política no Brasil é uma política de desenvolvimento sustentável, então, daqui para a frente, nós vamos ter que elevar a taxa de investimento do país, o Brasil saiu de uma taxa de 13% e vai ter que chegar a uma taxa de 21% de investimento. Nós vamos ter de aprimorar a construção da nossa infraestrutura, nós não vamos parar de construir ferrovia nesse país, né, nós fizemos um pedaço do, vamos dizer, da espinha dorsal, que é a norte-sul, vamos parar no final de 2010, vamos estar aí parados em Anápolis.

O POVO – Mas a senhora tem críticas ao atual governo? Poderia ter sido feita alguma coisa a mais do que foi feito?

DILMA – Se eu elencar uma porção de se para você, poderia, “se” a gente tivesse encontrado um projeto, nós não encontramos, “se” o Brasil tivesse uma experiência de crescimento, não tinha, “se” as prefeituras que passaram anos e anos sem investir, na hora que nós colocamos dinheiro, elas também não tinham dinheiro para ficar fazendo projeto que ia para uma gaveta, “se” os governos do Estado também tivessem... Então, tem uma quantidade de se que não vale a pena a gente tratar.

O POVO – Mas são dois governos, ministra...

DILMA – Não, eu quero dizer o seguinte, nós fizemos, nós trocamos o pneu do carro com ele andando. Eu não vou precisar de trocar o pneu do carro com ele andando. Nós reconstruímos o planejamento no setor elétrico, nós pegamos o pré-sal e mudamos o pré-sal, por que é que nós montamos o marco regulatório, para poder obter mais riqueza com esse marco regulatório, nós mudamos a forma de olhar a habitação popular no Brasil. Não podia, não sei se você sabe disso, era crime subsídio, era visto como uma influência negativa, como se você estivesse deturpando o mercado, como se o mercado conseguisse resolver a equação entre uma pessoa ganhar até três salários mínimos e a casa custar R$ 50 mil. A conta não fecha, só tem um jeito dela fechar, bota a mão no bolso do Tesouro Nacional, tira o dinheiro e dá diretamente para a pessoa ou a família que vai ser beneficiada. Então, nós mudamos modelos. O que eu me orgulho é de ter ajudado a mudar esses modelos, de ter participado diretamente. Eu saía da radioterapia, ia para um prédio da Petrobras, onde a Petrobras tem escritório em São Paulo, e passava a tarde inteira de uma reunião sobre o pré-sal. Então, uma parte de mim está ali, ou seja, eu não sou uma pessoa que estou fora desse governo, ele é outro governo. Eu ajudei para que esse governo tivesse as condições de fazer o futuro. Eu sei cada passo dele, eu sei, por exemplo, a importância do Território da Cidadania, pegar as regiões mais pobres do Brasil e fazer uma política de territorialidade, os Pontos de Cultura, do Ministério da Cultura, que pegou o dinheiro e distribuiu por uma porção de cidades desse país, tirando o dinheiro da cultura do centro-sul do país e levando a cultura brasileira, que é diversificada, para todos os lugares. Hoje, eu estava saindo daquela reunião, e uma das pessoas, eu não sei nem o nome dele, me falou “olha, você não falou da banda larga nas escolas”, não falei da banda larga nas escolas, porque não dá tempo de falar de tudo. Tem... O governo abriu a banda larga, mas não fez. Nós vamos fazer a banda larga nos próximos anos.

O POVO – Agora, ministra, insistindo um pouco, existe alguma autocrítica em relação àquilo que se poderia fazer mais... Por exemplo, o Fome Zero, quando foi implantado, tinha um objetivo, mas foi transformado no Bolsa Família, e acabou sendo questionado em muitos momentos porque passou a ser unicamente um programa de transferência de renda, e não como era a proposta do Fome Zero no início, algo mais amplo, para dar autonomia às famílias. Isso é um ponto que pode ser criticado?

DILMA – De jeito nenhum. Veja bem, um programa de transferência de renda é um programa absolutamente justificado. A crítica que faziam ao Bolsa Família é que ele não tinha portas de saída, como se você pudesse ter portas de saída com o Brasil não crescendo. O que é portas de saída no Brasil? Geração de emprego, capacitação para o trabalho, educação, escola técnica. Acontece que um programa, quando você tem uma parcela tão grande da nossa população na linha de miséria, você não pode falar “ó, espera daqui a cinco anos, seis anos ou dez anos, que quando o país crescer, você resolve o seu problema.” A pessoa precisa almoçar, tomar café-da-manhã e jantar. A mãe precisa dar comida pro filho. Então, o Bolsa Família é uma coisa muito simples, é um cinturão de proteção, para as pessoas e as famílias mais frágeis, que precisam de ser tratadas hoje, e não amanhã. A gente até acha que tinha que dar mais dinheiro pro Bolsa Família, nós não temos ainda como dar mais dinheiro, mas nós temos de ter clareza que a porta de saída do Bolsa Família é o crescimento da economia brasileira, é a geração de emprego, os nossos 12 milhões vão ajudar a ter porta de saída para o Bolsa Família. O pessoal da construção civil fez um programa conosco muito importante, que chama... tem um nome horrível, Planseq, já me disseram, esse nome não quer dizer nada com nada, está certo, não quer mesmo, um nome que não é bom, mas ele tem uma excelente idéia, que é a seguinte: você pega o Bolsa Família, o pessoal, a família do Bolsa Família e fala “quem quer”, obviamente que é voluntário, você não pode obrigar ninguém a fazer isso, “se você quer uma especialidade, se você quer se formar em azulegista, se você quer ser um eletricista, se você quer ser uma pessoa para fazer uma solda, nós vamos dar um curso assim, assim”, e garantimos o curso para ele. Nós juntamos ao Bolsa Família o Projovem, com isso, você tenta fazer o jovem, através de um incentivo, a voltar aos bancos escolares. Quer ver uma coisa que eu acho importantíssima, vou dar um exemplo concreto aqui em Pernambuco. Em Pernambuco tinha uma cidade que chamava Ipojuca, cheia de gente que era cortador de cana. Cortador de cana. Uma parte do pessoal cortador de cana, das famílias, era usuária do Bolsa Família. Ao lado de Ipojuca implantou-se um estaleiro, esse estaleiro chama-se Atlântico Sul. Nesse estaleiro, que aconteceu nele, nós voltamos a construir navio, porque nós definimos que a Petrobras tinha que voltar a comprar navio aqui dentro do Brasil, navio, plataforma, você pode olhar pelos dados do BNDES qual é o segmento industrial que mais cresce no Brasil, é petróleo, gás e petroquímica. Que que aconteceu com esse estaleiro? Ele tinha de ter mão-de-obra, certo? A Petrobras estava implantando ali do lado uma refinaria chamada Abreu e Lima, então eu perguntei pro pessoal do estaleiro Atlântico Sul, porque eles tinham uma planta de treinamento de trabalhadores? “Por quê? Porque aqui tem uma concorrência enorme por mão de obra. Nós estamos formando as pessoas que eram cortadoras de cana, nós estamos formando soldadores, eletricistas, pessoas que dirigem patrola. Por que nós estamos fazendo isso? Porque aqui vai faltar mão-de-obra”. E aí, outro dia no jornal, vocês estão lembrados, saiu acho uma semana atrás, nós estávamos trazendo decasséguis de volta. Por que nós estamos trazendo decasséguis de volta? Porque está faltando mão-de-obra especializada nesse país. Ninguém fica impunemente o tanto de tempo que o nosso país ficou sem investir em educação profissionalizante. Mas é bom que os decasséguis voltem, tem decasségui com 20 anos de experiência, que hoje vem para cá e vira chefe, mas é bom, ele vai trazer a experiência dele, vai passar para os outros trabalhadores. Mas o que eu acho é que a gente tem que ter consciência de que política social ela está casada com política econômica. Está casada com crescimento industrial. Esse país tem essa parelha, crescimento econômico e distribuição de renda, é um casamento. Então, falar que nós fazemos bolsa esmola, como falavam antes, e depois que a ONU reconheceu como o melhor programa de renda do mundo, pararam de falar.

O POVO – Ministra, a senhora falou no seu discurso lá no almoço em olhar nordestino, como sendo isso uma virtude desse governo. Minha pergunta é em que medida a senhora diria que é preciso uma política nacional, que dê para cada região o papel de protagonista. Quando a senhora fala em olhar nordestino, me remete a uma certa, digamos, a um certo carinho especial.

DILMA – Não é esse o sentido.

O POVO – Então eu gostaria que a senhora explicasse.

DILMA – É também, mas não é só isso.


O POVO – Na União Européia fizeram isso, uma política de compensação...

DILMA – Que está dando errado, né.


O POVO – Como é que a senhora imagina isso para o Brasil?

DILMA – Bom, a União Européia hoje não é um bom exemplo, porque, logo depois que ocorreu os PIGS, os chamados PIGS, Portugal, Irlanda, Grécia e, não, aí tem que gente que bota outros países, mas isso não vem ao caso. O que é uma política regional? É planejamento regional para o Brasil. Planejamento regional para o Brasil não é que o Nordeste tem de passar por todas as fases que São Paulo passou para chegar a ser um dos Estados mais desenvolvidos do Brasil. O Nordeste, olhar para o Nordeste, é combinar algumas coisas, é você perceber que aqui você tem uma dinâmica que vai ter de ser estimulada a partir do fato de que nós vamos ter de relocalizar um conjunto de ramos produtivos que estavam fora daqui. Não tem porque o Nordeste não ter petroquímico, não tem porque o Nordeste não se beneficiar, mesmo que ele não tenha petróleo na quantidade que tem em outros Estados do País, não se beneficiar do boom da indústria do petróleo e gás, tem de relocalizar, tem de botar estaleiro, acho que essa é uma questão importantíssima, tem de botar refinaria, tem que ter siderúrgica, você tem que ter as chamadas indústrias pesadas, tradicionais, que sempre puxaram emprego. Agora, o Nordeste tem uma característica que é esse novo olhar nordestino. Eu dou muita importância para o que eu vi hoje nesse seminário do O POVO que é o problema do empreendedorismo. Eu estou convencida que certos arranjos produtivos locais, certas cadeias produtivas que você encontra aqui, extremamente competitivas no ramo do vestuário. Em várias regiões nordestinas elas são padrões de desenvolvimento que nós queremos para o Brasil.


O POVO – Essa idéia faz parte do Projeto Nordeste do Mangabeira Unger?

DILMA – Faz parte do Projeto do Nordeste a partir do desenvolvimento do Projeto do Nordeste. Porque isso é que nós chamamos de um olhar... É porque eu coordenei com ele esse projeto. Significa o seguinte, que você não pode deixar de perceber que essa questão da liderança empreendedora não é uma questão que se resolve pura e simplesmente trazendo grandes indústrias produtivas. Eu acho que tem de trazer para cá. Acho que aqui tem de ter uma estrutura pesada, agora acho que o olhar nordestino para o Nordeste é aprender com a própria experiência e gerada aqui de sobrevivência de ramos inteiros, das indústrias, chamadas indústrias tradicionais, vestuário, calçado, que passam a ter possibilidade de gerar receita, não é inovação só no sentido de que eu inovei em produto, eu inovei o processo. Aqui tem inovações de processo, em que você distribui a produção por vários pequenos, você trabalha em conjunto, foi tudo gerado aqui de forma espontânea. Se nós não pegarmos essa experiência, não olharmos ela, não percebermos que ela é importante para várias outras regiões do País, porque, veja bem, eu vou te falar de um Estado que eu conheço bem, que é o Rio Grande do Sul. O Rio Grande do Sul tem uma metade sul que é mais decadente ou foi mais decadente que qualquer região aqui do Nordeste, tem vários Nordestes dentro do Brasil. E tem segmentos do Nordeste que são modernizantes, que a gente tem de aprender com eles. Então, isso serve, no caso do Rio Grande do Sul, na metade sul, né, o grande problema é que essas iniciativas locais não ocorreram dessa forma, ao contrário, por exemplo, da Serra de Caxias que tem uma quantidade imensa de pequenas e médias empresas de autopeças. Então aqui, eu te digo, olhar nordestino para o Brasil é pegar o Nordeste e fazer com que o Nordeste seja paradigma para o Brasil. Aqui tem muita coisa que nós podemos aprender. E eu acho que é mérito do Mangabeira ter levantado isso, ter reconhecido isso.

O POVO – Mas isso não saiu do papel no governo Lula ainda.

DILMA – Olha, eu vou falar uma coisa para vocês, nós, se você pegar a política do BNDES e do Banco do Brasil, para a questão do crédito, saiu sim. Nós agora vamos fazer são os passos seguintes. Você não consegue fazer tudo em quatro anos. Primeiro nós pegamos o país quebrado, 2003, quebradinho da silva, vamos lembrar disso. Pegamos o Brasil devendo pro Fundo Monetário, com 14 bilhões em caixa. A inflação com 12%, a taxa de juros nas alturas. E tivemos de consertar a casa, e aí consertamos a casa. Começamos a criar os programas sociais, nós tivemos a grande aceleração do nosso governo, foi um governo muito prudente, foi com o Programa de Aceleração do Crescimento, que nós botamos os investimentos na ordem do dia e soltamos dinheiro para as prefeituras, você pode chamar qualquer prefeitura do Brasil e perguntar “selecionaram por partido, por vínculos partidários?” Nãnãnanana. “Selecionaram os Estados por vínculos partidários?” Nós distribuímos dinheiro para quem tinha projeto, e quem tinha, e priorizamos a população.


O POVO – E o ritmo do PAC, que é sempre uma questão colocada.

DILMA – Vocês viram o último dado do Contas Abertas? O Contas Abertas, absolutamente insuspeito (ironia). O que o Contas Abertas está dizendo é o seguinte: acelerou-se o PAC. Em 2007, 2008 e 2009, somados, somados os três trimestres deu R$ 3,6 bilhões de desembolso de Orçamento Geral da União. Em 2010, nos três primeiros meses, deu R$ 3,9 bilhões.


O POVO – Mas isso é efeito campanha?

DILMA – Sabe porque, eu vou explicar para você, é impossível, não sei se vocês têm noção, é impossível um gasto efeito campanha, efeito campanha você gasta migalha. Obra desse porte demanda planejamento, você não faz uma Transnordestina... Hoje eu encontrei aqui um representante do investidor, que é do grupo da CSN, nós passamos o tempo inteiro, eu olho para ele, brinco com ele, ele brinca comigo, porque nós passamos o tempo inteiro eu falando “Tufi, essa obra está parada”, “Tufi, essa obra não andou”, e ele provando para mim que a obra está andando. Eu falei hoje na entrevista à imprensa o seguinte: vai ser a maior indústria de dormentes, primeiro eu falei do Brasil, depois eu falei América Latina, ele saiu correndo e disse “É do mundo”. É do mundo, mas é verdade. O esforço para fazer não é um esforço só do governo federal, nós não construímos um quilômetro de estrada, um quilômetro de ferrovia, um megawatt de hidrelétrica, não construímos um metro linear de tubulação de saneamento. Nós demandamos o setor privado. No Brasil, tinha muito entrave para fazer. Sabe qual é a maior característica do PAC, ele não só, ele não é só Orçamento Geral da União. Nenhum país do mundo fez obra de infraestrutura baseado no Orçamento Geral da União, não, sabe por que, porque não faz, é a combinação de Orçamento Geral da União mais crédito. E nós tiramos o crédito de 380 bilhões para 1,4 trilhão. E isso não é da iniciativa privada, isso é dinheiro que o governo federal colocou à disposição. Era assim, uma questão de prêmio quem tivesse acesso ao crédito de longo prazo no Brasil.

O POVO – Era loteria...

DILMA – Era loteria. Sabe qual era o maior horizonte de crédito no Brasil, cinco anos. Quando chegava a dez, era considerado crédito de longo prazo. Nós estamos financiando 20 anos. Não existe obra de infraestrutura, gente, sem financiamento de longo prazo. O PAC é isso. Nós mudamos, você pega qualquer empresário que faz PAC, pergunta se nós não mudamos a forma de fazer investimento no Brasil. Nós baixamos juros, aumentamos prazo, conseguimos viabilizar um... Financiavam o que? Financiavam sabe quanto, 55% da obra. No resto do mundo, chegavam a financiar 100%. Nós não vamos fazer isso, nós financiamos 70/30. 70 é dinheiro que nós colocamos e 30 é capital próprio, agora pergunto para você, esse dinheiro é de quem, hein? É da União, é os 100 bilhões que nós, apesar das críticas todas da oposição, botamos no BNDES. Nós botamos 100 bilhões no BNDES para fazer o que, para fazer de longo prazo. Quem é que faz investimento de longo prazo no Brasil, quem é o banco que financia, é privado? Não. Agora vai ter de ser, um dos desafios daqui para frente é que só o BNDES não segura tudo o que nós vamos precisar de dinheiro, nós vamos precisar de mercado de capital, vamos precisar de banco privado, vamos precisar de fundo de pensão, vamos precisar de melhorar uma coisa que no crédito se chama as garantias, então, é um baita esforço que o Brasil fez, mas eu te asseguro, hoje nós somos 100 mil vezes melhor do que éramos. Quem vier depois do governo Lula pega um país arrumado para crescer, na boca ali.


O POVO – Deixa eu trazer essa questão para o Nordeste especificamente. O BNB está tentando aumentar o patrimônio dele para poder emprestar mais, ele chegou ao limite do acordo de Basiléia, é algo que trava o Nordeste.

DILMA – Nós respeitamos o acordo de Basiléia. Agora, posso falar uma coisa, o Nordeste não tem que ser só financiado pelo Banco do Nordeste.


O POVO – Mas o BNDES aqui ainda não é tão forte quanto o BNB, o BNB aqui é o que sustenta...

DILMA – Ah, é, então quem é que está fazendo a Transnordestina? Finor, FNDE e BNDES. Quem é que está fazendo o Gasene? A Petrobras, o BNDES e a União. Quem é que está fazendo, vou te dizer mais uma, transposição de bacia?

O POVO – Ok. Mas o BNB tem um papel muito importante, quer dizer...

DILMA – Mas ele não é o principal instrumento de crédito para o Nordeste.

O POVO – Mas na hora que ele trava, na hora que ele chega ao limite dele, é sinal que tem...

DILMA – Ninguém vai transpor o limite da Basiléia. Aí é Lei de Responsabilidade Fiscal.

O POVO – Isso passa pelo Congresso, passa pelo esforço do Congresso.

DILMA – Mais do que isso. Passa pelo fato da gente ter, em relação a questão bancária, a gente tem de ter padrões e critérios de, vamos dizer assim, de robustez. É uma temeridade hoje alguém propor ruptura...


O POVO – Eu não falo romper, eu falo ampliar o capital...

DILMA – Mas aí é um acordo internacional, não é um acordo do Brasil. Isso o Banco Central não pode autorizar.


O POVO – Por que não passa no Congresso o aumento do capital do banco?

DILMA – Não, isso é outra coisa, nós somos a favor de aumentar o capital do banco, porque não tem nada a ver com Basiléia, é o governo que é sócio, é só pegar dinheiro e colocar lá. Eles não autorizaram. Mas tentaremos outra vez. Por que eles não autorizaram? Porque eles vêem no banco um instrumento de política correta do governo, agora com o BNDES tem tanto direito, as empresas do Nordeste têm tanto direito ao BNDES, e os juros do BNDES está muito bom, ou seja, elas podem pegar e tal. Agora, eu acho que o BNB tem que ser capitalizado, se é isso o que você está falando. A União propôs, quando propôs a capitalização do BNB, o aumento do recurso do BNB para aumentar a capacidade dele para emprestar, ela vê no BNB uma outra questão, ela vê no BNB um instrumento de fomento da pequena e da média indústria aqui. O BNB não precisa de emprestar para grande empresa, grande empresa pode pegar isso lá embaixo, que ela tem poder de fogo. Para quem o BNB tem que emprestar, é para a pequena e média empresa daqui. Aí o governo tinha todo o interesse de fazer isso, para fazer isso não precisa de romper nenhum requisito da Basiléia, dá para fazer tranquilamente, não fomos bem sucedidos, isso não implica... Quando eu disse hoje que eu achava que tem de ter um tratamento especial para pequena e micro é isso, e por região, o BNB tem que ser o instrumento desta política do Nordeste inovador, o instrumento. O Sebrae vai ter de ser também.


O POVO – O presidente Lula em 2003, logo que assumiu o governo, lançou uma nova Sudene. A senhora diria que a Sudene que está aí hoje a satisfaz?

DILMA – Eu acho que ainda ela não incorpou totalmente, mas ela está fazendo algumas coisas importantíssimas. Sem a Sudene, que controla alguns fundos, nós não tínhamos feito a Transnordestina. O dinheiro básico da Transnordestina, que a última parcela foi de R$ 1,6 bilhão, vem daí, quem administra esse R$ 1,6 bilhão é a Sudene. Óbvio que porque é a Transnordestina, como ela é um empreendimento caro, ela pegou um pedaço dos recursos expressivamente, agora nós estamos em outro ciclo. Esses recursos vão expandir, outros projetos vão entrar na pauta, e aí você vai ter que combinar... Por isso que te falo, não pode deixar tudo nas costas do BNB, porque senão ele não faz a política de fomento para o pequeno. Então, o que for grande aqui tem que ser BNDES, o que for grande, o que for obras de R$ 6 bilhões, R$ 5 bilhões, R$ 3 bilhões.


O POVO – Mas a Sudene deve assumir outros papéis, como a questão do planejamento?

DILMA – Terá. Terá. E o BNB, quando a gente estava discutindo o Plano Nordeste, o que nós estávamos discutindo, que o BNB tem mais quadros, tem mais estrutura que a Sudene, então que tinha que combinar a Sudene com o BNB para fazer o planejamento da região, para pensar a região como um todo, e não ela partida, e que seria através do BNB e da Sudene, inclusive o Smith sempre esteve à frente dessa discussão, sempre foi feita entre o pessoal da Sudene e com o Smith. Dessa conversa, nós ficamos com a consciência clara, que esses instrumentos de planejamento, de financiamento e de gestão tinham de ser integrados. Você para fazer desenvolvimento aqui, com pequenos e médios empreendimentos, terá de unificar a Sudene, a ação da Sudene, com o BNB, com o Sebrae e terá também de ter uma presença clara dos distintos governos estaduais como eixo de planejamento. Você não pode fazer um planejamento do governo federal com as costas voltadas para os governos estaduais. Eles são elementos cruciais da constituição do ente planejador. Então, a Secretaria de Planejamento e os órgãos locais de planejamento eles têm de estar integrados numa rede que pense a região.


O POVO – E isso seria coordenado pela Sudene?

DILMA – Isso seria coordenado pela Sudene, a idéia era essa, ta? Esse é um projeto que nós temos de futuro, especificamente para aqui.


O POVO – A senhora falou que quem vier depois do governo Lula vai encontrar um governo muito arrumado, pronto para os saltos necessários. A oposição tem dito o contrário, que há uma situação preocupante, inclusive em relação a qualidade dos gastos, que há um aumento nos gastos públicos. Como a senhora responde a essa crítica da oposição? O governo de fato, em decorrência de um interesse eleitoral, está meio que relaxando com as contas públicas?

DILMA – Olha, se tem um governo que não praticou nem pratica demagogia, somos nós. Quando a gente tem que falar não, a gente fala não com todos... não tem efes e erres no não, mas é com todos os efes e erres. O que acontece nessa questão de nos acusar de inflar gastos de custeio. Eu acho que primeiro, hoje, nós somos o menor déficit primário e nominal, um dos menores do mundo, ao que eu saiba a oposição não fala isso, não. Nós somos menores de acordo com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), com o Fundo Monetário, em todos os órgãos, nós somos um dos menores, enquanto os países da OCDE estão em torno de 15%, 12%, 10% na melhor hipótese, nós estamos ali em torno dos 2%, 3%. O que nós fizemos, esse déficit aumentou por conta da crise. Por que nós saltamos – nós íamos chegar a 1,8%? Por que nós aumentamos? Nós aumentamos os gastos no ano de crise, nós fizemos um gasto que se chama contracíclico. Gasto contracíclico é aquele gasto que impede o ciclo que é de depressão de continuar. Nós preservamos empregos, nós investimos pesado. Por exemplo, as prefeituras perderam... nós demos isenção de IPI, de PIS/Cofins, as prefeituras perderam dinheiro do fundo de participação. O governo foi lá, para não ter uma crise nas prefeituras, e deu o mesmo valor, bancou o mesmo valor que elas tinham em 2008. Então nós tivemos muito cuidado esse ano com a questão do gasto público. Foi contracíclico anticrise. Ao contrário dos governos da oposição, que aprofundavam a crise, porque o estado falia, o nosso não só não faliu, como nós saímos mais fortes da crise do que entramos. A gente tinha em torno de uns 205 bilhões de dólares de reservas, fomos para 243, último dado, deve ter aumentado um pouquinho mais, último dado oficial que eu tenho é de 243 bilhões de dólares. Bom, mas não foi isso que a oposição queixa. A oposição fala muito em saúde, fala muito em educação, fala muito em segurança pública. Eu quero saber qual é a mágica que um governo pode fazer para aumentar e expandir o ensino profissional nesse país sem contratar professor. Quero saber qual é a mágica que nós podemos fazer para expandir as unidades de pronto-atendimento na área de saúde, de 24 horas, aumentar o Saúde da Família, criar o Samu, fazer tudo o que nós temos de fazer e ainda está faltando muito o que fazer na área da saúde, sem contratar médicos, enfermeiros e agentes de saúde? Quero entender como é que a gente reaparelha a Polícia Federal, porque a Polícia Federal é governo federal, reaparelha a Polícia Federal, dá condições aos profissionais da Polícia Federal para trabalhar, sem contratar delegados, inspetores da Polícia Federal? Então, o governo reaparelhou o estado sim, nós reaparelhamos, não no sentido de aparelhamento de uso, é nós reconstruímos as condições de prestação de serviço do estado brasileiro. Eu quero contar um episódio para vocês: eu era ministra de Minas e Energia escolhida pelo presidente. O Ministério de Minas e Energia só controla, é um anão deste tamanhozinho controlando um gigante chamado Petrobras, outro gigante chamado Eletrobrás. Fora outras coisas. Mas é isso que ele faz. Sabe quantos engenheiros tinha dentro do Ministério? Cinco. Sabe quantos motoristas tinha dentro do Ministério? Uns 30. Então, nós vivíamos num país que tinha reduzido o estado a uma insignificância tal e vendia uma história para todo mundo de que nós não podíamos planejar, porque planejar é estatizante. A Esso planeja, a Shell planeja, a Epson planeja, todas as grandes empresas fazem uma coisa chamada planejamento estratégico. Hoje, as pequenas e médias, as empresas todas fazem planejamento. Aí você me diz o seguinte: se você não planejar, como é que você vai fazer a integração dos modais do transporte do Brasil? Como é que você vai fazer, como é que você vai pensar energia elétrica? Hoje, se você não planejar energia elétrica com dez anos, depois cinco, para saber se vai ter energia suficiente daqui a cinco, daqui a dez, você não tem. Porque um projeto leva cinco anos, no mínimo, para amadurecer. Você, se não acompanhar de dois, tudo o que vai acontecer no Brasil de dois em dois anos, na área de energia elétrica, falta energia. Aí falam lá “ah, mas teve apagão”. Que apagão? O que houve no Brasil foi blecaute, apagão é igual a racionamento de luz, é aquele negócio que você corta a luz e fica com ela racionada durante oito meses. Não tem isso no Brasil, não, porque está sobrando energia no Brasil. Então, eu te pergunto o seguinte, por que o Nordeste por fazer energia eólica, quem é que compra? Compra a política de geração de energia do governo federal, que chega e fala “vamos comprar energia eólica”. E mais, acabou com a brincadeira de tornar todo mundo igual, porque não é. Onde tem a melhor energia eólica? Resposta: Rio Grande do Norte e Ceará. Não tem tão boa no resto do país. Então eu tenho que contratar o que for melhor para o Brasil. Inventaram uma lei, nós ficamos durante muito tempo amarrados a ela, agora passou, que a gente só podia contratar se fosse nacional, e ao mesmo tempo não podia contratar naquelas regiões que tinham maior produtividade. Então, tudo isso no Brasil nós mudamos isso, nós alteramos isso. Então, eu quero dizer pra vocês: eu acredito que nós recompusemos sim o custeio, nós aumentamos o custeio. Mas nós aumentamos o custeio no lugar que é custeio. Tem jeito de eu fazer saúde sem médico? Não. Tem jeito de eu fazer educação sem professor? Não. Tem jeito de eu melhorar saúde e educação com salário de fome dos professores? Não.


O POVO – Mas isso respeitando a capacidade financeira do governo?

DILMA – Meu querido, vou te repetir, olha só, veja bem, nós temos o menor déficit, nós chegamos ao ponto de fazer uma poupança no fundo soberano, porque em 2008 sobrou dinheiro, nós pegamos dinheiro e ta, criamos um fundo soberano e o Brasil tem uma poupança fiscal. No dia que ele quiser, pode usar. Por que esquecem isso?


O POVO – Tem um outro aspecto que a oposição já toca bastante é sobre a sua experiência num cargo eletivo. A senhora tem um vasto currículo em administrações públicas, mas não numa posição protagonista. E numa campanha diz-se que isso é fundamental, ter experiência de palanque...

DILMA – A ver, né. Isso ainda está para ser provado.


O POVO – Além disso tem um outro aspecto, já que a senhora é mulher e o Brasil nunca teve uma presidente.

DILMA – Mas o Brasil tem tanta coisa hoje... Está aqui o Ceará, que é um exemplo para mim.


O POVO – Pois é, como é que a senhora está se preparando para a campanha, já que, em vários momentos pegam pedaços do discurso da senhora e já estão falando, ah, é gafe. Como a senhora vai se portar, deve cair para o emocional?

DILMA – Não é necessário cair para o emocional, além do fato de que cada um de nós tem que ter paixão, coração, sensibilidade. Mas não é necessário, não é por aí a questão. A questão é a seguinte: a troco de que se acha que é gafe ir no túmulo do Tancredo? Por que? Eu, cada vez que falam isso, eu acho o seguinte, acho que faz parte da disputa política tentar colar no adversário, né, algumas coisas, agora.


O POVO – Esse episódio dos exilados...

DILMA – No episódio dos exilados, eles distorceram o que eu falei, é uma vilania o que estão fazendo. Eu inclusive queria ler para ti, vou ler outra vez, sabe por que eu leio? Porque eu gosto que as pessoas vejam o que elas estão distorcendo. Eu não estou falando... Eu vou ler para vocês. Eu estava falando o seguinte, eu venho aqui para as pessoas me conhecerem e quero dizer para vocês o que eu não faço, o que vocês nunca esperem de mim, porque eu não faço. Aí elenquei várias coisas que eu não faço: eu não entrego o meu país, eu não vou privatizar patrimônio público, vocês não esperem de mim repressão aos movimentos sociais, que eu não farei, eu sou a favor do diálogo etc. etc., a horas tantas, eu digo o seguinte: “eu não fujo da situação quando ela fica difícil, não fujo. Eu não tenho medo da luta, eu posso apanhar, sofrer, ser maltratada, como já fui, mas eu estou sempre firme com as minhas convicções. Em cada época da minha vida, eu fiz o que fiz porque acreditei no que fazia, fiz com o coração, com a minha alma e com a minha paixão, eu só mudei quando o Brasil mudou, eu nunca fugi da luta ou me submeti, e, sobretudo, nunca abandonei o barco.” Onde tem exilado aqui? Outra coisa, você lembra daquela discussão do Senado, eu e o José Agripino? O José Agripino pega um depoimento meu no qual eu dizia “na tortura, a gente tem de mentir. E mentir muito, e é muito difícil. Porque, porque você fala tortura, tudo o que eles querem na tortura é obter a sua verdade, e é tudo o que você não pode entregar, e essa é uma briga muito difícil, porque todo mundo tem medo. Acreditar que alguém não tenha medo é um absurdo, cada um de nós é igualzinho, dói, todo mundo tem medo, ninguém sabe... Eu até lembro da cadeia que tinha uma frase que eu achava muito bonita que era do Brecht, “feliz o povo que não precisa de heróis”, mas nós, né, aos 19 anos, ou 20, 21, tínhamos de ser um pouco. Então, você tinha que mentir, era sua grande arma contra eles. Então o Zé Agripino, no alto do seu compromisso com outros interesses, né, ele foi um grande líder político dentro... naquele período da ditadura militar, me cobra que eu não falo a verdade naquele momento. Eu falei “olha, na democracia a gente fala, democracia tem liberdade de expressão, não prendem jornalista, tem liberdade de imprensa, tem debate livre, é diferente da ditadura”. Então, há que entender o seguinte: na vida, você tem fugas e fugas. Durante a ditadura, eu fugi para a clandestinidade. Sabe por que eu fugi para a clandestinidade? Ou eu ficava clandestina, ou eu podia morrer, ou ia ser torturada, então ir para a clandestinidade era meu recurso de sobrevivência, não fui para a clandestinidade porque eu quis ou porque eu achava bonito viver longe da minha família, sem meus pais, aliás, meu pai estava morto, sem minha mãe, sem meus amigos. Fui para a clandestinidade num esquema de sobrevivência. Aí o Brasil foi fechando. As pessoas foram para o exílio por questão de sobrevivência. É uma deliberada adulteração de uma fala. Não fugi da luta, só aqueles que não viveram a ditadura podem falar isso de exilado ou de clandestino. Da mesma forma, só aqueles que não passaram por isso podem falar que diante da tortura você fala a verdade.


O POVO – Mas nitidamente vão usar toda essa sua história de vida.

DILMA – Com certeza, mas já estão fazendo isso.


O POVO – Mas o candidato José Serra (PSDB) já disse que está proibido tocar nesse assunto porque acha que seria desonesto. Mas tem os outros partidos, o PPS já falou, soltou até nota de repúdio...

DILMA – Mas sabe o que é, meu querido, chama-se a mão do gato, né, aquele negócio, pegar as castanhas com a mão do gato, queima a mão do gato. Não é correto isso.


O POVO – Então a senhora acha que não é sincera a atitude do candidato Serra?

DILMA – Não, não, não estou dizendo isso. Estou falando o seguinte...


O POVO – Quem é o gato?

DILMA – É a oposição. A oposição está fazendo isso deliberadamente, ela inventou essa história. Inventou como, naquele momento, ele inventou a questão da verdade.


O POVO – A senhora acha que a imprensa está sendo, pelo menos os veículos...

DILMA – Olha, eu acabei de agradecer ao Noblat. O Noblat hoje no seu blog, se você ler o blog do Noblat, ele reconhece. Porque eu mandei pro Noblat sabe o quê? A fita. A fala.


O POVO – Mas a íntegra já estava disponível desde cedo, né?

DILMA – Bom, se alguém não viu, agora passou a ver. Então, eu concordo contigo, a íntegra podia estar disponível, mas vá que a pessoa não viu, né?


O POVO – A senhora acha que precisa de um treinamento para falar?

DILMA – Posso te falar uma coisa? Você sabe, eu acho que tem uma tentativa de fazer com que eu não viaje, não abra a minha boca, não fale, não seja conhecida. Não vou me impressionar só por causa... Não, escuta, você acredita sinceramente que... eu tenho 62 anos de vida. Eu já fiz muita coisa. Você acredita, sinceramente, que o que eu falo é teleguiado, é porque eu não acredito? Só tem um jeito de eu comunicar com o eleitor, eu acredito no que eu falo.


O POVO – Mas o presidente Lula só conseguiu se eleger depois que ele mudou o discurso, orientado pelo Duda Mendonça.

DILMA – Mas eu, vou te dizer uma coisa, eu tenho um mestre, e meu mestre se chama Lula. Então, cinco anos, eu aprendi com o melhor dos melhores, aliás, com o cara. Não é, aprendi com ele. Acho que fui uma aluna, vamos dizer assim, muito séria, compenetrada, e eu aprendi muito.


O POVO – Ministra, a senhora assumiu o cargo na Casa Civil num momento delicado do governo, no qual o chefe da Casa Civil era muito mais político do que gestor. A senhora levou uma tranqüilidade para a gestão do governo Lula. A senhora eleita presidente, a senhora vai precisar de um braço direito na gestão ou a senhora pretende acumular esses dois papéis?

DILMA – Ah, ninguém gere sem equipe, não. Ninguém.


O POVO – A senhora precisa de um braço direito, ter um nome forte para...

DILMA – Mais do que um braço direito, preciso de uma equipe. Posso falar uma coisa? Eu não acredito que o presidente Lula precisava de um braço forte. Nós construímos foi uma equipe. Se a versão sobre o que nós fizemos é que tinha um braço forte, está errada. Eu fiz uma coordenação de equipe. De jeito nenhum eu acredito que uma andorinha faz verão. Várias andorinhas voando concertadamente fazem um lindo verão e um céu azul lindo. Agora, é preciso que as andorinhas voem concertadamente. Isso eu acho que vou ter de ter uma equipe de muita qualidade, porque hoje nós temos uma experiência de governo que ninguém tira de nós. Não sei se você lembra, quando nós chegamos no governo diziam “que pessoal incompetente”, “esse governo não dura”, “esse governo acaba amanhã”, “ih, esse pessoal não sabe governar”. Pior não é isso, pior é que “eles nunca, só tiveram vento a favor, viveram no momento em que o Brasil e o mundo estava numa fase de expansão. Nunca pegaram uma crise pela frente”. Eles (governo FHC) pegaram a crise asiática, uma crisezinha russa, todas elas na periferia. Nós pegamos a maior crise do capitalismo depois de 1929. Nós quebramos? Nãnanananananana. O Brasil entrou num grande processo de recessão? Também não. O Brasil hoje é um dos países reconhecidamente em melhor situação? É. Então, me desculpa. As versões que fazem sobre nós, nós não acreditamos nela porque nós não somos isso, faz parte da luta política. Agora eu espero que eles mostrem o que fizeram. Hoje perguntaram para mim: “mas vocês ficaram oito anos lá e não desprivatizaram o que estava privatizado”. Ora, absurdo total. Era como se pedissem para nós... nós não achamos que um país do tamanho do nosso possa quebrar contrato, possa sair por aí rasgando contrato. Um dos fundamentos da estabilidade desse país é que nós honramos todos os contratos feitos, você não pode deixar de reconhecer que um governo é uma continuidade, nós assumimos o que o passado fez. Por isso é que temos de ter cuidado com o passado, e por isso é que o passado não é que simplesmente passou, ele perdura no presente. Nós temos uma grande sorte, tá, nós não privatizamos a Petrobras, não dividimos a Petrobras. Por que? Porque o povo não deixou, também, porque eles chegaram perto. Porque mudar o nome da Petrobras para Petrobrax, tirando dela o que era o nacional dela, o Brás, de Brasil, porque o Petro é de petróleo, o Brás que é o de Brasil, não me consta que o Brasil tenha X no nome, não me consta.


ASSESSOR INFORMA QUE O BNB REPASSOU DADOS SOBRE CONTRATAÇÃO DE CRÉDITO

Em 2002, eram R$ 1,4 bilhão (Dilma: o presidente adora dar esse dado e eu esqueci de dar), e aí pulou para R$ 25 bilhões, para este ano.

DILMA – E é isso o que nós queremos, que seja para pequenas e micro empresas regionais.


O POVO – De certa forma, a senhora falou aqui que o governo do PT sofre com alguma prática de terrorismo eleitoral.

DILMA – Muito difícil de pegar na população. Dificílimo de pegar, tanto é que, um dos argumentos, uma dos jeitos que eles estão dando é dizer que eles são continuidade do governo Lula, dizer que eles... dá no mesmo, sermos nós ou sermos eles. E não pode comparar, está proibido no Brasil comparar. Como se você pudesse entrar numa eleição como se nada tivesse acontecido até hoje, e como se eu não comparasse o Brasil com o Brasil.


O POVO – Mas não é uma prática de característica semelhante dizer que o Bolsa Família pode acabar no governo do PSDB, ou o PAC.

DILMA – Não fui eu que disse. A história do PAC que pode acabar você pode pegar, recorrer à revista Veja, vai lá, ler na revista Veja, que o presidente do partido defendia o fim do PAC e, além de defender o fim do PAC, mexer na política econômica do governo, em especial no câmbio e nos juros. Está escrito, eu não inventei. No que se refere ao Bolsa Família, é ver a campanha que fizeram em 2006 contra nós em cima do Bolsa Família, que era o bolsa esmola, e que o Bolsa Família era eleitoreiro. Só mudou isso um pouco quando, eu vou repetir, quando o Bolsa Família foi considerado um dos melhores programas de distribuição de renda, só. E foi considerado isso por órgãos internacionais.


O POVO – A senhora, aqui no Ceará, não tem como não falar do Ciro.

DILMA – É uma pessoa que eu gosto muito, tenho o maior prazer de falar dele.


O POVO – A senhora tem sido bastante diplomática quanto a ele, mas ele tem sido mais agressivo em relação ao PT já faz algum tempo. A senhora teria medo da boca do Ciro durante a campanha?

DILMA – Não, não. Eu vou te dizer uma coisa, eu, em relação ao Ciro, e eu repito isso não é hoje, não, há muito tempo, eu tenho pelo Ciro admiração, respeito e amizade. E essa relação foi criada e se estreitou num momento difícil do governo. Eu cheguei na Casa Civil em 2005, e, naquele período, até o final do primeiro governo do presidente Lula, eu encontrei o Ciro sistematicamente todos os dias às oito horas da manhã, e com ele discutia como é que era o nosso encaminhamento diante de toda a crise política que estava passando, vocês têm conhecimento dela. E eu tenho respeito pelo Ciro, eu considero o Ciro um homem de caráter, uma pessoa que mantém todas as credenciais para pleitear o que ele quiser ser, eu, da minha parte, você jamais terá, em hipótese alguma, ocorra o que ocorrer, uma crítica ao Ciro. Porque tem certas coisas que você não esquece.


O POVO – Mas atrapalha a candidatura dele contra a sua?

DILMA – Para mim, eu sempre acreditarei que eu e o Ciro, no futuro, estaremos sempre do mesmo lado. E eu vou repetir para ti: ele tem direito de querer ser candidato. E além disso, quero te dizer, eu gosto muito dele.


O POVO – A senhora tocou num outro ponto que tem sido polêmico aqui, que é o estaleiro. Aqui tem uma discussão em que apóia-se a vinda do estaleiro, mas discute-se o local, que gerou polêmica. Não sei se a senhora tem conhecimento.

DILMA – Não, porque nós não interferimos nisso. A única coisa que a gente quer é a área. Inclusive a única coisa que a gente quer é a área, até porque não seremos nós que vamos construir o estaleiro. Da refinaria também, se quiser mudar a área, não tem problema. A única coisa que tem de indicar é que área que é. Nós não escolhemos área, não interferimos na política local. Até porque não tem cabimento, é uma coisa que não está na nossa área de manobra, aí vem um estaleiro para cá, vem o governo federal, bota o bedelho, dá palpite, sem ser chamado, e além de ser sem ser chamado, sobre uma realidade que ele não conhece perfeitamente. Então, nós não fazemos isso.

O POVO – Mas a senhora não é mais governo, agora a senhora é uma cidadã.

DILMA – Até duas semanas atrás eu era governo, você sabe daquele ditado, que cachimbo que toca a boca, às vezes a minha boca entorta.

Veja como o Datafolha alterou a proporcionalidade dos eleitores entre as pesquisas de Fevereiro e de Março, beneficiando Serra!

Datafolha alterou, de forma dramática, a proporcionalidade dos eleitores que entrevistou nas suas pesquisas de Fevereiro e de Março. Como o instituto fez isso, é o que irei explicar agora.




1) Em Fevereiro, na divisão por regiões do país, o Datafolha entrevistou o percentual de eleitores relacionado abaixo:



Sudeste - 40,9% (o correto seria em torno de 42%);

Nordeste - 28,7% (o correto seria em torno de 29%);

Sul - 14,6% (o correto seria em torno de 14%);

Norte/Centro-Oeste - 15,8% (o correto seria em torno de 15%).



Portanto, o que se conclui destes dados acima é que o Datafolha respeitou, na sua pesquisa de Fevereiro deste ano, a proporcionalidade da população brasileira. Assim, o instituto entrevistou um número de eleitores, em cada região do país, que respeitou a divisão da mesma entre o Sul, Sudeste, Nordeste e o Norte/Centro-Oeste. As diferenças não chegam a 1%, o que é irrelevante do ponto de vista estatístico.



2) Mas, na sua pesquisa de Março, o Datafolha modificou, radicalmente, o percentual de eleitores entrevistados em cada região do país, desrespeitando totalmente a divisão da população brasileira entre cada uma delas. Duvidam? Então, vejam como o Datafolha dividiu (proporcionalmente) os eleitores entrevistados, em cada região do país, na sua pesquisa de Março:



Sudeste - 61,2% (o correto seria 42%);

Nordeste - 18,4% (o correto seria 29%);

Sul - 11,6% (o correto seria 14%);

Norte/Centro-Oeste - 9,2% (o correto seria 15%).



Portanto, na sua pesquisa de Março, o Datafolha aumentou fortemente o percentual de eleitores pesquisas na região Sudeste, que foi de 61,2%. E a imensa maioria destes, 48,1% dos eleitores pesquisados a nível nacional (2001 eleitores), eram paulistas. E 26% dos eleitores entrevistados no país inteiro eram da CIDADE de São Paulo (1081 eleitores).



Ao mesmo tempo, a participação dos eleitores das demais regiões foi bem menor do que seria o correto, principalmente no caso do Nordeste, que teve apenas 18,4% de entrevistados, quando o correto seria 29%. O Norte/Centro-Oeste foi outra região com uma sensível diminuição do percentual de eleitores pesquisados.



Comparando-se as duas pesquisas, temos o seguinte:



Fevereiro/Março:



Sudeste - 40,9%/61,2% (aumento de 49,6%);

Nordeste - 28,7%; 18,4% (redução de 35,9%);

Sul - 14,6%/11,6% (redução de 20,5%);

Norte/Centro-Oeste - 15,8%; 9,2% (redução de 41,8%).



Esta mudança brutal na divisão do eleitorado entrevistado pelo Datafolha, em cada região do país, ajuda muito a explicar porque nestas pesquisas os resultados foram os seguintes:



Fevereiro:



1o. turno:



Serra - 32%;

Dilma - 28%.



2o. turno:



Serra - 45%;

Dilma - 41%.





Março:



1o. turno:



Serra - 36%;

Dilma - 27%.



2o. turno:



Serra - 48%;

Dilma - 39%.



Portanto, a subida de Serra e a estagnação de Dilma na pesquisa de Março foi fruto, basicamente, desta manipulação grosseira feita pelo Datafolha. E segundo informações já divulgadas, o mesmo procedimento foi adotado pelo instituto na sua pesquisa divulgada ontem, promovendo-se uma nova manipulação do percentual de eleitores que deveriam ter sido pesquisados em cada região do país.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A política pós-Lula

Por Luiz Felipe de Alencastro do Valor Economico

Em análise de perspectivas para a campanha e as eleições de outubro, o historiador e cientista político Luiz Felipe de Alencastro vê razões para preocupação.

Para o historiador e cientista político Luiz Felipe de Alencastro, os cenários políticos que podem emergir das urnas, em outubro, contêm elementos preocupantes, seja quem for o vencedor. Michel Temer, como eventual vice-presidente de Dilma Rousseff, tenderia a comandar um PMDB fortalecido demais, a ponto de comprometer o poder da presidente.

Quanto a José Serra, Alencastro entende que o ex-governador de São Paulo, embora tenha “muita experiência” e seja “um grande líder”, tem “um problema sério”, derivado da dificuldade de formular uma proposta que se diferencie de políticas que se mostraram bem-sucedidas no governo Lula. Essa situação pode trazer certo conforto para a candidata do PT, mas está aí outro motivo de inquietação”, pois “não é sadio para país nenhum a ausência de alternância política”.

Tendo acompanhado de perto a formação dos novos partidos, nos anos 1980, Alencastro conhece a dinâmica interna das principais legendas. No PT, vê o risco de transformação do lulismo no varguismo que o partido combateu em sua origem. Já o PSDB pode ficar circunscrito a São Paulo, enquanto a direita passa por um processo de radicalização semelhante ao dos republicanos nos Estados Unidos.

Luiz Carlos Marauskas/Folha Imagem

Sobre Serra: “Tem muita experiência, é um grande líder, mas, com a expectativa em torno de seu nome, vai fazer o quê no governo?

Exilado em 1968, Alencastro, então estudante da Universidade de Brasília, foi recebido na França pelo economista Celso Furtado e Raul Ryff, secretário de Imprensa do governo João Goulart. Na Europa, completou a graduação, o mestrado e o doutorado, antes de voltar ao Brasil para lecionar na Unicamp.

Titular da cadeira de História do Brasil na Sorbonne desde 2001, o autor de “O Trato dos Viventes” [Companhia das Letras, 2000] conversou com o Valor num café próximo de sua residência parisiense.

A seguir, trechos da entrevista.

Valor: A revista “The Economist” fez uma matéria de capa sobre o Brasil, dizendo que o futuro chegou para o país do futuro. O sr. compartilha desse otimismo?

Sobre a candidata do PT: “O real da Dilma são o Bolsa Família, o PAC (…), mas acho problemático ela não ter a experiência de um mandato eletivo”

Luiz Felipe de Alencastro: Até a oposição compartilha desse otimismo. Dentro e fora do país há um consenso favorável sobre a economia brasileira, sobretudo com a entrada da China no mercado mundial, com uma forte demanda por matérias-primas. O lado negativo é que o comércio externo fica parecido com o que era no século XIX. Há um risco nessa divisão internacional do trabalho que vai se criando, em que o Brasil vira exportador de matérias-primas novamente.

Valor: E a perspectiva política?

Alencastro: O que me assusta é a ideia de ter Michel Temer como vice-presidente. Ele é deputado há décadas e foi presidente da Câmara duas vezes. Controla a máquina do PMDB e o Congresso à perfeição. Vai compor chapa com uma candidata que nunca teve mandato e é novata no PT. O presidencialismo pressupõe um vice discreto, porque ele é eleito de carona, para trazer alianças e palanques. Aos trancos e barrancos, instaurou-se um sistema presidencialista que tem dado certo no Brasil. O fato de haver dois turnos, associado à integração do vice na chapa do presidente, deu estabilidade ao sistema. Foi assim com Fernando Henrique e Marco Maciel. Foi assim com Lula e José de Alencar. Dilma e Temer formam uma combinação inédita: uma candidata até então sem mandato associada a um político cheio de mandatos e dono do PMDB, que é o maior partido do Brasil, mas nunca elegeu um presidente e vai com sede ao pote. O PMDB pode estabelecer um vice-presidencialismo, com um papel de protagonista que seria descabido.

Valor: Dilma é considerada uma administradora eficiente, mas não tem uma carreira política como a de Lula. Isso pode comprometer seu governo?

“O que me assusta é a ideia de ter Michel Temer (na foto) como vice-presidente (…) O PMDB poderá estabelecer um vice-presidencialismo, com um papel descabido de protagonista”

Alencastro: Ela assumiu a Casa Civil num momento difícil. O governo e o país estavam em crise e, por muito tempo, não se falou nela, o que é um indício de grande eficácia. Num cargo exposto como esse, não ser notícia é um grande feito. Isso prova que não é ficção sua fama de boa administradora. Mas acho problemático ela não ter a experiência de um mandato eletivo.

Valor: Lula, quando eleito, só tinha passado pela Assembleia Constituinte.

Alencastro: Mas era o fundador de um importante partido político e um grande líder sindical. O lado conciliador de Lula vem daí, da experiência de conversar no botequim com os companheiros, negociar com o patronato, avaliar relações de força na fábrica e na política. Se ele errasse, dirigindo uma greve furada, a sanção não seria perder um mandato, mas ter no dia seguinte dezenas de trabalhadores no olho da rua. Sem contar as campanhas, as três que perdeu para presidente e uma para governador de São Paulo, em 1982. Dilma foi secretária estadual no Rio Grande do Sul, um Estado muito politizado, mas isso não equivale a um cargo eletivo.

Valor: Serra, o sr. conhece melhor.

Alencastro: Serra tem muita experiência e é um grande líder. Mas tem um problema sério. Vou formulá-lo de maneira abrupta: e se Serra for um blefe? Explico: ele é apresentado desde 1982, quando foi secretário de Planejamento em São Paulo, como o reformador do Brasil, o homem que vai racionalizar a economia e dar jeito no país. Quando Fernando Henrique ganhou, ele foi ministro do Planejamento, mas ficou fora da política econômica. Como se dizia, Serra era o candidato da Fiesp, da indústria, e Fernando Henrique, da Febraban, dos banqueiros. Serra foi parar na Saúde e até hoje não quer ser associado àquela política econômica, de que era crítico acerbo.

Valor: Já em 2002 ele tentava se apresentar como ruptura.

“A transição de Fernando Henrique para Lula foi a primeira alternância dentro da legalidade democrática. Uma democracia não é só ter partido político e eleição. É preciso que a oposição também possa ganhar”

Alencastro: As pesquisas mostravam uma rejeição ao candidato indicado por Fernando Henrique. Isso continua. É curioso esse excesso de impopularidade. Chega a ser injusto. Não tem um vereador do PSDB que faça santinho dizendo ser candidato do partido de Fernando Henrique. Pergunto às pessoas, quando vou ao Brasil, o que as incomoda em Fernando Henrique. Fala-se das privatizações: “Vendeu tudo e não se viu o dinheiro”. Ou nos bilhões de dólares queimados na gestão temerária da paridade cambial. Ou coisas mais subjetivas, misteriosas: “O jeito como ele ri”…

Valor: Voltando a Serra, e se ele for um blefe, como o sr. diz?

Alencastro: O problema dele é esse: com a expectativa em torno de seu nome, ele vai fazer o quê no governo? A própria Fiesp, que mais ela quer, senão seguir com a política de Lula? E os banqueiros, que se entopem de dinheiro? Sem contar os 26 milhões de pessoas que subiram na escala social. Não dá para saber o que Serra vai fazer. Não pode entrar com o discurso de acabar com a corrupção, porque isso não dá muito refresco e depende mais da Justiça, dos tribunais de contas.

Valor: Essa situação parece confortável para Dilma.

Alencastro: Esse pode ser outro motivo de inquietação. Não é sadio para país nenhum a ausência de alternância política. A transição de Fernando Henrique para Lula foi a primeira alternância que houve no Brasil dentro da legalidade democrática. Era a última hipoteca que pesava sobre a democracia brasileira. Uma democracia não é só ter partido político e eleição. É preciso que a oposição também possa ganhar. Isto posto, no Chile a “Concertación” ficou 20 anos no poder, só perdeu agora. Se o Lula voltar em 2014, e ficar 8 anos, aí vamos ter 20 anos de PT na Presidência. Penso que será mais complicado que o ocorrido no Chile.

Valor: De todo modo, é uma projeção.

Alencastro: É uma projeção, mas está no horizonte de gente como Aécio Neves, que deve estar inquieto. E não é uma perspectiva nova. Em 2006, a candidatura de Fernando Henrique estava na pauta. Na época, Serra teria dito: “Se for para perder, o candidato sou eu. Se for para ganhar, é Fernando Henrique.” Essa projeção não é irracional. Os dois mandatos de Lula criaram algo novo. O cientista político André Singer mostra [em artigo para a revista "Novos Estudos"] que Lula foi eleito no primeiro mandato pelos operários sindicalizados e pela classe média. No segundo, perdeu uma parte da classe média e ganhou entre trabalhadores não organizados e subempregados, graças aos programas sociais. Isso resultou num novo populismo. Segundo Singer, esse eleitorado é conservador, não quer mudanças, quer que o governo tome conta dele. Acho essa interpretação um pouco estática, porque pressupõe que a ascensão social desse subproletariado não incomoda ninguém, e que a ameaça de perder o que ganhou não o levará a uma politização ativa.

Valor: A classe média também pode gerar instabilidade, ao sentir que perde privilégios?

Alencastro: Isso já está acontecendo. É o que alimenta a agressividade anti-Lula de certos jornais e revistas, que retratam a perplexidade de uma camada social insegura: os pobres estão satisfeitos e os ricaços também, mas a velha classe média não acha graça nenhuma. Ter doméstica com direito trabalhista, pobres e remediados comprando carro e atrapalhando o trânsito, não ter faculdade pública garantida para os filhos matriculados em escola particular. Tudo isso é resultado da mobilidade social, que provoca incompreensão e ressentimento numa parte da classe média. Daí o furor contra o ProUni, as cotas na universidade, o Bolsa Família. Leio a imprensa brasileira pela internet e às vezes fico pasmo com os comentários dos leitores, a agressividade e o preconceito social explícitos. O discurso de gente como o senador Demóstenes Torres no DEM [contra o sistema de cotas raciais nas universidades públicas] indica uma guinada à direita da direita parecida com a dos republicanos nos Estados Unidos. Lá, esse extremismo empolgou o partido inteiro e pode desestabilizar o país. A falta de perspectiva da oposição cria um vácuo para o radicalismo.

Valor: A oposição está desarticulada?

Alencastro: Desarticulada e sem discurso político coerente, e isso é ruim para o Brasil. Como ela vai se reorganizar? E vamos extrapolar: se perder São Paulo e o Rio Grande do Sul, acaba como força política nacional. Um desequilíbrio tamanho entre os partidos é problemático. Novamente, o exemplo americano: fico impressionado não só com o radicalismo, mas com a histeria. Obama é chamado de Anticristo… O Brasil pode enveredar por aí. Brasil e Estados Unidos são países conservadores e precisam ter um partido conservador à altura. A desarticulação da direita não é bom sinal. É preciso uma alternativa conservadora que mantenha a insatisfação no jogo eleitoral. Foi isso que o PT fez na esquerda. Ainda no tempo da ditadura, recolheu o sindicalismo apartidário, a franja próxima da luta armada, que tinha sido desmantelada, e a militância cristã, que não tinha onde se expressar eleitoralmente. Isso fez a força do PT.

Valor: Depois de 2003, muitos desses foram embora, como os fundadores do PSOL.

Alencastro: Foram, mas não saíram do quadro institucional. No México ainda tem gente fazendo política com capuz e arma na mão, como o subcomandante Marcos [porta-voz do comando militar do grupo indígena chamado Exército Zapatista de Libertação Nacional]. Na Argentina, não houve alternância completa: não conseguiram se livrar do peronismo até hoje. A China é uma ditadura que explora brutalmente sua classe operária. A Índia tem atentados a bomba. A Rússia está envolvida numa guerra colonial na Tchetchênia. O Brasil é o único dos Bric [grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China] sem bomba atômica, sem encrencas com os vizinhos e com uma prática democrática bem enraizada.

Valor: A tendência, então, é Serra liderar uma direita radicalizada?

Alencastro: O problema é que, a princípio, Serra não é o candidato que a direita gostaria de ter. Ele é um democrata com trânsito numa parte da esquerda. Também é meio estatizante, adepto de uma política tarifária protecionista e por aí vai. Não é a mesma direita de Demóstenes Torres, Ronaldo Caiado ou mesmo Geraldo Alckmin. Por quê? Porque Serra teve a experiência da perseguição política, da ditadura, do exílio. Companheiros dele foram mortos, outros torturados. Isso até o aproxima de Dilma: os dois principais candidatos à presidência correram o risco de ser assassinados pela direita mais radical. Serra ainda escapou de Pinochet quando estava no Chile. De Paris, acompanhei com atenção sua volta ao Brasil em 1977, antes da anistia. Eduardo Kugelmas [sociólogo e cientista político, morto em 2006], quando soube que Serra tinha voltado sem ser preso, me disse: “Todo mundo pode voltar agora. Serra é um elefante de piranha. Se ele passou, todo mundo pode voltar”. Hoje, o que torna sua candidatura difícil é não ter um discurso mais abrangente, além do anti-PT, para atrair outros setores.

Valor: A aliança possível para Serra seria talvez a direita radical, com que não se identifica. E sua adversária é uma esquerda que se aproximou das ideias que ele defendia…

Alencastro: Serra está confrontado a um impasse. Não pode elogiar Fernando Henrique e não pode atacar Lula. Que candidato ele pode ser? Qual é seu terreno? Ele pode ser um blefe nesse sentido. Na campanha, vai ter de prometer continuidade para os programas do PT. Quando Sérgio Guerra disse que o PSDB faria tudo diferente, foi um desastre. Disse que ia mexer no câmbio e nos juros. Falou disparates e levou um cala-boca do partido.

Valor: Isso pode fazer com que a campanha se torne virulenta?

Alencastro: Na blogosfera, já começou. É terrível, a começar pelo episódio da ficha policial falsa de Dilma. É um sinal do que está por vir. Vai ser um vale-tudo monumental. Embora o impacto disso seja limitado no grande eleitorado, é forte entre os chamados “formadores de opinião”. Sobretudo, cria um clima de tensão e de irresponsabilidade na campanha presidencial.

Valor: A presidente da Associação Nacionais de Jornais, Judith Brito, disse que a fraqueza da oposição leva a imprensa a agir como partido. O que significa a imprensa se comportar como partido político?

Alencastro: Normalmente, a imprensa defende a Constituição, reformas políticas, ideias. Não há nada errado, por exemplo, em apoiar candidatos. O “New York Times” apoiou Obama, mas tem um trabalho jornalístico sério e equilibrado. Esse é o papel da imprensa, o que é diferente de querer substituir partidos políticos. Fiquei perplexo com o texto de uma coluna regular num grande jornal carioca que continha uma proposta partidária para o PSDB. O papel do jornalista não é redigir programas partidários.

Valor: Aécio Neves fala de um voto antipaulista que poderia prejudicar Serra.

Alencastro: Aécio vem falando nisso desde 2002. A política nacional sempre foi perturbada pela política paulista. São Paulo não consegue se arrumar internamente por razões objetivas: é o maior Estado industrial, mas também o maior Estado agrário. Tem alta tecnologia, mas grandes favelas. Pesa economicamente do Oiapoque ao Chuí, no Paraguai e na Bolívia. Tudo isso cria rivalidades fortes na esfera estadual e a influência do Estado no país faz com que essa desordem repercuta nacionalmente.

Valor: O PSDB é cada vez mais dependente desse Estado. Ele pode se tornar uma versão moderna dos partidos paulistas de antigamente?

Alencastro: É uma possibilidade. No Rio Grande do Sul, por exemplo, Tarso Genro já empatou com José Fogaça. Se o PT toma o Rio Grande, sobra pouco para o PSDB fora de São Paulo. Fernando Henrique disse numa entrevista quando percebeu que a eleição de 1994 estava ganha: na Bahia, foi mais ovacionado que Antonio Carlos Magalhães. As pessoas agitavam notas de um real. Qual é o real do Serra? O real da Dilma são o Bolsa-Família, o PAC, o ProUni. Serra vai vender o quê? A grande mudança trazida pela ditadura eram os partidos nacionais, tanto na direita quanto na esquerda. Mas isso está acabando. O último partido nacional é o PT, os outros são fragmentos de costuras locais. Com isso, o que acontece? O desabamento do PFL, hoje DEM, à direita. Um PDMB que virou essa massa informe, que permeia tudo com clientelismo e é o maior partido do país. O PSDB pode se tornar um partido ilhado.

Valor: Como fica o PT nessa configuração?

Alencastro: Como partido no poder, o PT se aguenta, porque tem financiamento também do patronato, empreiteiras, grupos que antes não o financiavam. O PT tem ainda uma máquina partidária bem operacional, tempo de televisão e, claro, a disciplina partidária. Mal ou bem, eleições para a direção do PT têm atraído dezenas de milhares de militantes. Que outro partido brasileiro tem essa participação? Todo mundo se lembra da “convenção do Massimo”, que reuniu Serra, Aécio, Fernando Henrique e Tasso Jereissati, em fevereiro de 2006, num dos restaurantes mais caros do Brasil, em São Paulo, para discutir a candidatura do PSDB às eleições presidenciais daquele ano.

Valor: O PT sofreu mutações desde que Lula foi eleito.

Alencastro: O aparelho, que se mexia sozinho, foi decapitado com a derrocada de [Luiz] Gushiken, [Antonio] Palocci e [José] Dirceu. Lula tomou conta e o partido perdeu sua independência. Tarso Genro disse que a candidatura Dilma cresceu no vazio que se criou dentro PT, e tem razão. O próprio Tarso, em 1997, foi pré-candidato contra Lula. Imagine se hoje isso seria possível! Existe um problema de sobrevivência para o PT pós-Lula. O movimento mais forte do Brasil no século XX, o varguismo, esgotou-se quando Lula foi para o segundo turno em 1989, batendo Brizola e puxando o eleitorado trabalhista. O PT também pode se desarticular porque perdeu o debate interno. Em 2005, com o escândalo do mensalão, Raul Pont propôs uma refundação do partido e enfrentou [Ricardo] Berzoini nas eleições internas. Perdeu, depois sumiu. Ninguém mais ouve falar nele, nem se sabe o que ele pensa. A ausência de debate interno pode transformar o PT num partido amorfo, corroído pelo empreguismo e o clientelismo político.

Valor: A política brasileira caminha para a fragmentação?

Alencastro: O que está acontecendo é a fagocitose das estratégias partidárias nacionais pela política estadual. É um efeito das reeleições nos Estados e nos municípios. Isso também coloca outros problemas. Seria necessário que os tribunais de contas estaduais e municipais fossem mais fortes, mais independentes – como o Tribunal de Contas da União – para escapar ao sobrepeso de um governador ou prefeito que é reeleito. As contas do Maluf, por exemplo, sempre foram aprovadas, e hoje ele está na lista vermelha da Interpol. Isso deveria levar a um questionamento maior no Brasil. Primeiro, nos partidos. Eles têm comissões de ética, mas abrigam eleitos acusados de diversos crimes. Depois, na imprensa, que deveria questionar tribunais de contas que aprovam o exercício de governadores e prefeitos delinquentes. Os editores deveriam pautar repórteres para recuperar os documentos, interrogar os membros desses tribunais. Como pode alguém ser perseguido pela Interpol, podendo ser preso em 181 países por causa disso, mas passar pelas regras da gestão pública brasileira?

Valor: A política externa brasileira tem recebido elogios no exterior, mas críticas pesadas no país. A que o sr. atribuiria essa disparidade?

Alencastro: Pela primeira vez, desde 1850, quando a marinha de guerra inglesa bloqueava a baía de Guanabara por causa do tráfico negreiro, a diplomacia brasileira entrou na agenda da campanha eleitoral nacional. Acho uma coisa muito boa. Durante a ditadura, política externa era um assunto secundário. Depois, com a internet, os jornais desistiram de ter sucursais e correspondentes no exterior. Ora, a política externa virou um assunto complexo, mas o Brasil não tem especialistas suficientes nos jornais ou nas universidades. A imprensa não segue política internacional de maneira adequada. Exige-se mais conhecimento específico dos jornalistas esportivos que de quem cobre o setor internacional. Há um quarteto de embaixadores aposentados que estão sempre na televisão, batendo em Celso Amorim e Lula. Repetem que a política externa é um desastre. Desastre? Os jornais americanos e europeus discordam. Nunca vi o Brasil com tanto prestígio. É até desproporcionado, dado o peso ínfimo do país no comércio internacional. Ao contrário da Índia e da China, potências atômicas com peso comercial enorme. Em maio, Lula vai ao Irã e está sendo criticado no Brasil. Já a “Economist” diz que é bom, porque abre novos canais de comunicação entre Estados Unidos e Irã. Nos últimos dias, a diplomacia brasileira usou com habilidade as regras da OMC e as manobras políticas para rebater o protecionismo americano na questão do comércio do algodão. Tenho certeza de que esse assunto, que começou em 2002 e ainda não terminou, ficará como um marco na história diplomática.

sábado, 3 de abril de 2010

VOX POPULI acaba com a farsa do DATAFOLHA


A pesquisa do Vox Populi anunciada agora há pouco no Jornal da Band desmonta a manipulação que o jornal da Folha de São Paulo juntamente com o Instituto de Pesquisa Datafolha armaram contra a companheira DilmaRousseff. Segundo a pesquisa, a próxima presidenta do Brasil, continua crescendo e diminuindo a diferença contra o filhote de Fernando Henrique Cardoso, o Zé Pedágio, que comprou a mídia. Vamos a matéria da Band:


Da redação - brasil@band.com.br - Pesquisa divulgada neste sábado pelo instituto Vox Populi mostra que o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, se mantém na liderança. Dilma Rousseff, do PT, volta a crescer e reduziu a diferença para apenas três pontos percentuais. O ex-governador de São Paulo aparece com 34 por cento das intenções de voto, mesmo percentual de janeiro. A ex-ministra da Casa Civil DilmaRoussef, do PT, subiu quatro pontos percentuais e segue na segunda posição, com 31%. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, para mais ou para menos. Ciro Gomes, do PSB, vem em terceiro lugar, com 10%. Marina Silva, do PV, está em quarto lugar com 5% das intenções de voto. Votos nulos e brancos somam 7%, enquanto 13% dos entrevistados não souberam ou não quiseram responder.



COMPARAÇÃO COM A ÚLTIMA PESQUISA VOX POPULI PUBLICADA EM 29 DE JANEIRO DE 2010:

O Zé Pedágio tinha 34%(hoje permanece com os 34% - estacionou). Já a próxima presidente do Brasil, Dilma Rousseff tinha 27%(hoje tem 31%, subiu 4 pontos percentuais). Ciro Gomes tinha 11%(hoje com 10%, perdeu 1 ponto percentuais). Marina Silva tinha 6%(hoje tem 5%, perdeu 1 ponto percentuais. O levantamento da pesquisa foi entre os dias 14 a 17 de janeiro. Se a comparação for com a PENÚLTIMA PESQUISA, Dilma Rousseff já subiu 13 PONTOS.

Observação: somente Dilma Rousseff subiu nesse última pesquisa comparando com a outra.

Serra estacionou, desmoralizando a farsa do DATAFOLHA.